Debate.
Quando faltam os argumentos...
José
Angelo da Silva Campos
O Brasil parece aquele meninão
pré-adolescente na fase de mudança da voz. Dá até para entender o que ele fala,
mas, não passa despercebida a variação constante no som emitido, ora grosso,
ora fino.
A comparação é tosca, considerando a
seriedade da coisa. Por falar em coisa, a coisa pública está agonizante e,
neste clima instável como a voz do meninão, provocando discussões sob a forma
de “debate”, muitas vezes calorosos e, porque não dizer, carentes de
fundamentação.
Os debatedores, na sua maioria,
veem-se tomados pela paixão, que é uma adesão cega e surda, normalmente
alimentada pelo orgulho, irmão gêmeo da vaidade, que não permite a livre ação
do intelecto que, para bem funcionar, depende do oposto do orgulho e da vaidade
que é a humildade.
Humildade para reconhecer, em
primeiro lugar que ninguém é dono da verdade e, portanto, ter a capacidade de
“dar o braço a torcer”, aceitar os argumentos alheios quando os fatos, aliados
aos princípios republicanos e democráticos, lançam a tese defendida na seara da
ausência de fundamento lógico.
Admitir que suas próprias
argumentações perderam o embasamento que as sustentavam, não é motivo de
vergonha, ao contrário, é sinal de sabedoria.
De fato, a defesa das teses implica
no objetivo de convencimento da parte contrária. Porém, aquilo que se inicia no
âmbito da intelectualidade não admite o uso da violência (seja física, seja
intelectual) para silenciar o opositor, pois assim não haveria convencimento,
apenas imposição violenta de posicionamento.
A crise de valores que assola a
sociedade brasileira fere de morte a nossa dignidade pessoal, levando-nos à
descrença nas instituições e na capacidade de reação inerente ao ser humano.
As ideias, pensamentos, ensinamentos
históricos, a tradição moral e os princípios instituídos por séculos de
evolução são substituídos por “ideologias” que conduzem o debatedor a agir e
reagir sob o domínio das emoções. E o que é afinal “ideologia”?
A definição de ideologia requer um
estudo filosófico da utilização do termo, suas primeiras aplicações e as mais
marcantes no contexto da história da humanidade.
Arrisco-me a adotar uma definição
que atende meus pensamentos pessoais, portanto longe de servir como plena
verdade. A palavra ideologia teria nascido no final do século XVIII e início do
século XIX, no contexto da revolução francesa, teve seu entendimento como
conceito de “ideia falsa” ou “ilusão” por Napoleão Bonaparte, quando designou
seus opositores de “ideólogos”, denotando um sentido negativo ao termo.
Com base neste sentido negativo,
Karl Marx elaborou o sentido de ideologia conforme compreendemos hoje. Ou seja,
a ideologia faz parte da superestrutura: a infraestrutura é econômica, a
superestrutura é cultural, daí cria-se uma farsa de superestrutura para
justificar os interesses de classe. Assim, a ideologia denota um conceito de
falsidade, criatividade argumentativa para justificar os interesses econômicos
daquele que a cria, ou a adota para si.
Opto por não adotar nenhuma
ideologia, deixando minha mente livre para o convencimento nas argumentações
fundamentadas e no exercício consciente do meu intelecto, mesmo que isso me
leve a varias mudanças de entendimento. Costumo dizer sobre minhas ideias: “esse
é o meu entendimento, convença-me do contrário.”
Daí a importância de evitarmos as
paixões, para que elas não cerrem a porta da nossa capacidade de assimilação, esse
bem fundamental que é a razão.
Brasileiros, não fujam do debate,
porém, quando faltarem argumentos, sejam humildes, admitam o argumento do opositor
ou, simplesmente silenciem, até que adquiram novos argumentos para reiniciarem
o debate.
A violência emburrece.
Um bom e salutar debate a todos,
para o bem da republica, da democracia e do nosso crescimento pessoal.
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