segunda-feira, 21 de março de 2016

DEBATE. Quando faltam os argumentos...



Debate.
Quando faltam os argumentos...
José Angelo da Silva Campos

O Brasil parece aquele meninão pré-adolescente na fase de mudança da voz. Dá até para entender o que ele fala, mas, não passa despercebida a variação constante no som emitido, ora grosso, ora fino.
A comparação é tosca, considerando a seriedade da coisa. Por falar em coisa, a coisa pública está agonizante e, neste clima instável como a voz do meninão, provocando discussões sob a forma de “debate”, muitas vezes calorosos e, porque não dizer, carentes de fundamentação.
Os debatedores, na sua maioria, veem-se tomados pela paixão, que é uma adesão cega e surda, normalmente alimentada pelo orgulho, irmão gêmeo da vaidade, que não permite a livre ação do intelecto que, para bem funcionar, depende do oposto do orgulho e da vaidade que é a humildade.
Humildade para reconhecer, em primeiro lugar que ninguém é dono da verdade e, portanto, ter a capacidade de “dar o braço a torcer”, aceitar os argumentos alheios quando os fatos, aliados aos princípios republicanos e democráticos, lançam a tese defendida na seara da ausência de fundamento lógico.
Admitir que suas próprias argumentações perderam o embasamento que as sustentavam, não é motivo de vergonha, ao contrário, é sinal de sabedoria.
De fato, a defesa das teses implica no objetivo de convencimento da parte contrária. Porém, aquilo que se inicia no âmbito da intelectualidade não admite o uso da violência (seja física, seja intelectual) para silenciar o opositor, pois assim não haveria convencimento, apenas imposição violenta de posicionamento.
A crise de valores que assola a sociedade brasileira fere de morte a nossa dignidade pessoal, levando-nos à descrença nas instituições e na capacidade de reação inerente ao ser humano.
As ideias, pensamentos, ensinamentos históricos, a tradição moral e os princípios instituídos por séculos de evolução são substituídos por “ideologias” que conduzem o debatedor a agir e reagir sob o domínio das emoções. E o que é afinal “ideologia”?
A definição de ideologia requer um estudo filosófico da utilização do termo, suas primeiras aplicações e as mais marcantes no contexto da história da humanidade.
Arrisco-me a adotar uma definição que atende meus pensamentos pessoais, portanto longe de servir como plena verdade. A palavra ideologia teria nascido no final do século XVIII e início do século XIX, no contexto da revolução francesa, teve seu entendimento como conceito de “ideia falsa” ou “ilusão” por Napoleão Bonaparte, quando designou seus opositores de “ideólogos”, denotando um sentido negativo ao termo.
Com base neste sentido negativo, Karl Marx elaborou o sentido de ideologia conforme compreendemos hoje. Ou seja, a ideologia faz parte da superestrutura: a infraestrutura é econômica, a superestrutura é cultural, daí cria-se uma farsa de superestrutura para justificar os interesses de classe. Assim, a ideologia denota um conceito de falsidade, criatividade argumentativa para justificar os interesses econômicos daquele que a cria, ou a adota para si.
Opto por não adotar nenhuma ideologia, deixando minha mente livre para o convencimento nas argumentações fundamentadas e no exercício consciente do meu intelecto, mesmo que isso me leve a varias mudanças de entendimento. Costumo dizer sobre minhas ideias: “esse é o meu entendimento, convença-me do contrário.”
Daí a importância de evitarmos as paixões, para que elas não cerrem a porta da nossa capacidade de assimilação, esse bem fundamental que é a razão.
Brasileiros, não fujam do debate, porém, quando faltarem argumentos, sejam humildes, admitam o argumento do opositor ou, simplesmente silenciem, até que adquiram novos argumentos para reiniciarem o debate.
A violência emburrece.
Um bom e salutar debate a todos, para o bem da republica, da democracia e do nosso crescimento pessoal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário