sábado, 12 de março de 2016

Tempo do Advento e Natal.


Tempo do Advento e Natal.

Eu vou, mas voltarei a vós.” (Jo 14,28)

José Angelo da Silva Campos

 

Reconhecer o sagrado, seja o espaço, seja o tempo, é essencial ao católico e, ao mesmo tempo, intrínseco à sua fé.

Jesus chorou sobre Jerusalém que não reconheceu o tempo da visitação: “Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar. E disse: “...porque não reconheceste o tempo em que foste visitada”. (Lc 19, 41, 44b)

O espaço sagrado é o lugar reservado para Deus, santificado (o interior de uma Igreja, por exemplo) e o tempo sagrado é o kairós, ou seja, o tempo oportuno, o tempo da justa medida, o tempo em que Deus age.

O Ano Litúrgico é o tempo de santificação, verdadeira escola de santidade, é o tempo sagrado que começa no primeiro Domingo do Advento, tem seu ponto mais alto na Páscoa e termina na solenidade de Cristo Rei. É o tempo oportuno, a ação de Deus no tempo.

A cada ano litúrgico “o Povo de Deus volta a pôr-se a caminho, para viver o mistério de Cristo na história”¹.

O Advento, palavra de origem latina que significa vinda, chegada, e que na linguagem cristã refere-se à vinda de Deus, à sua presença no mundo, quando estabelecido na cronologia do Ano Litúrgico, nos convoca a um momento de penitência, uma penitência com sentido diferente daquela do tempo da quaresma. Uma penitência de vigília, de preparação para a vinda do Senhor, “vigiai e orai”.

Nesse tempo somos exortados a nos associarmos a João Batista que prepara a vinda do Messias, a voz que clama no deserto, e ao ícone do Advento, a Virgem Maria que “encarna perfeitamente o espírito do Advento, feito escuta de Deus, de desejo profundo de fazer a Sua vontade, de serviço jubiloso ao próximo”¹, para vivermos a expectativa da vinda gloriosa de Jesus, bem celebrando os mistérios da Sua encarnação e da sua total presença no meio de nós, cumprindo a missão de anunciar ao mundo que “Jesus é o vivente, a própria vida”²:

Jesus se aproximou deles e disse: ‘Foi me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos.”(Mt 28, 18-20)

Deus se revela a Adão, o primeiro homem, e pede a sua amizade.

Criado à imagem e semelhança de Deus, o homem, sucumbido pelo pecado, perde a semelhança ao Deus criador e distancia-se do Seu amor.

Deus, que criou o homem por puro amor, não desiste dessa amizade e, no tempo oportuno, aos poucos Se revela, preparando o seu povo para a grande reconciliação, a revelação plena para a redenção da humanidade, “Et Verbum caro factum est et habitavit in nobis” (E o Verbo se fez homem e habitou entre nós).

De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3,16)

Com a sua vinda ao meio de nós, Deus indica-nos e confia-nos também uma tarefa: precisamente a de ser semelhantes a Ele e de tender para a verdadeira vida, de alcançar a visão de Deus, no rosto de Cristo. Santo Irineu afirma ainda: ‘O Verbo de Deus pôs a sua morada no meio dos homens e Se fez Filho do homem, para habituar o homem a sentir a Deus, e para habituar Deus a fazer a sua morada no homem, segundo a vontade do Pai. Por isso, Deus concedeu-nos como ‘sinal’ da nossa salvação Aquele que, nascendo da Virgem, é o Emanuel’ (Santo Irineu)”.¹

O mundo moderno vive uma crise de fé. O homem se coloca cada vez mais como o centro do universo. A distância do sagrado esfria o coração humano e aumenta sua necessidade de Deus. A velocidade das comunicações, aliada ao conforto vindo do progresso tecnológico, provoca uma frenética busca da felicidade naquilo que o mundo pode oferecer.

O Advento é o tempo oportuno para uma desaceleração. Tirar os olhos do mundo e buscar naquele que habita no meio de nós, a Luz que retira o véu dos nossos olhos e nos faz enxergar plenamente o amor, que vem por pura graça, nascido pequenino e frágil do seio de uma mulher, numa manjedoura, humilde e próximo de nós, ao nosso alcance.

Com os olhos desvendados, na pequenez daquele menino vemos a grandiosidade de Deus que se inclina, por puro amor e misericórdia, para nos alcançar e resgatar à vida, eterna e plena para a qual fomos criados.

Numa vigília constante, neste tempo da Igreja (tempo da misericórdia), nos preparamos para o tempo do juízo, a vinda definitiva e gloriosa do Filho Unigênito de Deus.

No Natal contemplamos Deus que se fez um de nós e que estando à direita do Pai, age em nossa vida através da sua Palavra; nos Sacramentos, especialmente na Santíssima Eucaristia.

Cheios de amor e confiança, pedimos na vigília do Advento e, especialmente no Santo Natal, na oração que Ele nos ensinou: “Venha a nós o vosso reino”!

Vinde Senhor Jesus!


 

¹ - E o Verbo se fez carne: Reflexões sobre o mistério do Natal – Bento XVI; Campinas-SP: Ecclesiae, 2014.

² - Jesus de Nazaré: da entrada de Jerusalém até a ressurreição/Joseph Ratzinger; tradução Bruno Bastos Lins. – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário